Lançada Comissão da Verdade de Diadema
No
dia 8 de novembro, na Câmara Municipal de Diadema, foi lançada a
Comissão da Verdade desse município do ABC Paulista, criada pela
vereadora Lilian Cabrera (PT). Segundo ela, “O que me motivou a criação
da comissão foi uma necessidade, que percebi na juventude, de conhecer
de fato como as histórias se consolidaram e quais os reflexos que nós
temos hoje do período de uma ditadura no nosso país. Eu não fui
torturada, não vivenciei as ações desse período, mas vejo muitos
reflexos nas desigualdades de direitos. Nossa sociedade é composta por
mulheres, negros, afrodescendentes, que sofrem violência e resquícios
dessa repressão. Outro objetivo é ouvir a história por outro ângulo. De
quem vivenciou e dos familiares que participaram de formas diferentes”.
Quem abriu a audiência foi Derly de
Carvalho, seguido pelo depoimento de Ernesto José de Carvalho, o Ernesto
Guevara, filho de Devanir José de Carvalho, morto no período da
ditadura, e Any de Carvalho, companheira de Derly e também perseguida,
presa e exilada política.
Derly, Joel, Jairo, Daniel e Devanir,
junto com os pais, mudaram-se de Minas Gerais para São Bernardo do
Campo, também no ABC, em 1960. Tornaram-se operários e em poucos anos se
viram diante de uma ditadura militar. Derly, também representante do
Centro de Memória da Associação dos Metalúrgicos Aposentados-Anistiados
(AMA-A), conta o que significou para ele e os irmãos os anos da
ditadura:
“Ingressamos de corpo e alma no
movimento sindical. Entrei em 1961 na Associação de Metalúrgicos de São
Brnardo do Campo, na época não havia sindicato, fundamos ele depois.
Fazíamos parte da formação de uma nova classe operária no Brasil, com a
industrialização, a chegada de várias montadoras, empresas americanas e
europeias no país. Essa classe operária acumulava experiências políticas
internacionais do Vietnã, Cuba, China e União Soviética. Assim que
ingressei no sindicato, ingressei também no Partido, que, naquele
momento, era o instrumento de representação política dos trabalhadores –
e eu me joguei por inteiro. Com a cassação da nossa diretoria (do
sindicato) eu e meus irmãos também fomos para a clandestinidade e
começamos a ter uma participação ativa no processo de resistência
armada, pois, para qualquer atividade política relacionada à organização
dos trabalhadores, era preciso resistir, pois, afinal, podíamos ser
presos a qualquer momento. Acho que, resumidamente, foi essa nossa
participação. A Comissão da Verdade nos permite levar à nova geração
tudo o que aconteceu neste país nos anos da ditadura militar e mostrar
quem são os responsáveis pelas torturas e desaparecimentos. Eu acredito
em uma coisa: o que realmente vai mudar cara do Brasil, do ponto vista
democrático, no futuro, são as próximas gerações, como essa geração como
a de vocês do jornal A Verdade e essa juventude que está ativa.”
A Comissão da Verdade de Diadema colherá
depoimentos, todas as sextas-feiras, até a segunda quinzena de janeiro
do próximo ano. Abrir os arquivos da ditadura, trazer à tona o nome de
quem ela torturou, matou ou fez desaparecer, tantos jovens
trabalhadores(as), também é algo que esperamos que o governo faça depois
de todo esse esforço das comissões que funcionam em todo o Brasil.
Thainá Siudá, Diadema
As sessões podem ser acompanhadas ao vivo pelo site: http://www.cmdiadema.sp.gov.br
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